segunda-feira, janeiro 29, 2007

As motivações do Não

O meu caro amigo rcom, habitual comentador deste blogue, deixa-me tantos comentários que me perco ao responder-lhe, por isso, faço-o de uma assentada e serve também para esclarecer outros potenciais visitantes com dúvidas acerca da posição dos defensores do não.

1. Não existe nenhuma mulher presa por abortar até às 10 semanas. Existiram alguns julgamentos, o que é mau, como é óbvio. O "Não" não pretende criminalizar a mulher nem obrigá-la a julgamentos humilhantes. Nisso estamos de acordo. Se a pergunta se referisse apenas à despenalização, julgo que o sim venceria com quase 100%.

2. O "Não" defende que nenhuma mulher seja perseguida por abortar. Se a nova lei for aprovada, as mulheres que abortarem depois das 10 semanas serão perseguidas.

3. O "Não" defende que se deva dar todas as condições necessárias às mulheres para que elas não necessitem recorrer ao aborto. Desde 1998 que o fazemos, com pouca ou nenhuma ajuda do estado, mas com muita ajuda da Igreja, o que legitima a hipótese de esta se pronunciar em defesa da vida porque, neste país, ninguém faz mais pela vida e pela dignidade humana do que a Igreja.

4. O "Não" não é contra o dinheiro gasto em abortos pelo estado. O "Não" é contra o facto de o estado abdicar de ajudar mães em risco e financiar vacinas contra o cancro do colo do útero, por exemplo, mas estar disposto a pagar abortos. O "Não" também é contra o dinheiro gasto em julgamentos de mulheres, julgamentos esse que irão continuar se a mulher abortar após as 10 semanas.

5. O "Não" é contra o aborto porque considera que, às 10 semanas, há vida humana e essa vida deve ser respeitada. O "Não" não concorda que se possa abortar apenas porque o feto não sente dor, não tem consciência nem tem senciência porque acreditamos que a vida humana é mais importante e mais abrangente do que esses critérios.

6. O "Não" não defende que o aborto mereça uma pena semelhante ao homicídio. Mesmo as penas do homicídio variam dentro de certos valores. Estes valores levam em conta a brutalidade do crime, a vulnerabilidade da vítima e as relações sociais efectuadas pela vítima durante a sua vida.

7. Os números do aborto em Portugal não são conhecidos e, da parte do "sim", há muita desinformação. Insinuam que se faz 5 mil abortos em Badajoz mas, no entanto, na região de Badajoz, em 2005, não foram feitos mais do que 1800 abortos, muitos deles de mulheres espanholas. Em toda a Espanha, houve pouco mais de 2700 mulheres estrangeiras a abortar e este número não inclui apenas as portuguesas.

8. Em praticamente todos os países onde se liberalizou o aborto houve um aumento drástico dos números e estes continuam a aumentar muitos anos depois da sua liberalização. A URSS foi um dos primeiros países a liberalizá-lo. Hoje, na Rússia e na Bielorrusia, antigas repúblicas soviéticas, a taxa de aborto é superior a 50%. Muitos desses países apresentam graves problemas de natalidade. Alguns deles, como a Alemanha, a França, a Coreia do Sul, o Japão e a Rússia estão a levar a cabo campanhas para diminuir o aborto.

9. Existe muita gente que vota "sim" apenas por ódio à Igreja. A Igreja cometeu muitos erros, mas foi há muitas décadas. Hoje continua a cometer alguns: não aconselhar o uso do preservativo, por exemplo. No entanto, hoje a Igreja é uma das maiores instituições de solidariedade social do planeta. Infelizmente, mentes mal informadas limitam-se a falar em perseguição de bruxas na idade média e negam-se a ver as evidências actuais. A Igreja, mais do que ninguém, tem o direito e o dever de defender a Vida.

10. Apesar de se poderem invocar razões de fé para defender a Vida, são inúmeros os factos científicos, filosóficos e jurídicos que nos levam a fazê-lo. A evolução da ciência permitiu-nos ter uma nova visão daquilo que é a vida intra-uterina.

11. Os defensores do "Sim" invocam constantemente as falhas com os métodos contraceptivos. Ora, todos nós sabemos que eles não são 100% eficazes e, se mesmo assim acedemos a utilizá-los, estamos automaticamente a concordar com o possível risco que estamos a correr. Concordar com o risco implica assumir as consequências do mesmo.

2 comentários:

Ka disse...

Bom dia Fernando,

Estive ausente quatro e reparo que andaste muito atarefado... hehehe

É realmente impressionante não conseguirem perceber o que está em causa.

Assino por baixo o que está escrito!!

Mas digo ainda mais uma coisa: a questão da vida aparece antes de qualquer religiosidade, de qualquer moral.
Sou católica mas digo que a minha posição contra o aborto existe antes de pôr a componente relegião na apreciação que faço a esta questão. A vida é um facto! Ela existe desde o momento da concepção, é única e irrepetível.

fernando alves disse...

Tens razão Ka.
E tenho pena que haja pessoas que consideram que seja vida humana mas mesmo assim votem sim. Não consigo compreender, mas enfim...