quarta-feira, janeiro 03, 2007

Falsos argumentos III

Insinua-se constantemente e sem provas que são aos milhares as mulheres que realizam abortos em Espanha. As clínicas espanholas, interessadas na vitória do "sim" para assim alargar o seu negócio a Portugal, confirmam as insinuações.
No entanto, com o recurso a uma análise das estatísticas do aborto em Espanha, surgem inúmeras contradições nas afirmações dos apoiantes do "sim" e das clínicas de aborto no país vizinho.

Alguns números apontam para 4000 as mulheres que realizam abortos em Espanha todos os anos. As cidades mais referidas como o local onde se realizam abortos são Badajoz, Vigo e Madrid. Se isto fosse verdade, seria lógico que a taxa de abortos praticados nas províncias que incluem estas cidades apresentasse uma discrepância em relação às outras províncias já que só se contabilizaria os nascimentos de crianças espanholas mas seriam contabilizados abortos de crianças espanholas e de crianças portuguesas.

  • Em 1998 insinuava-se que 3000 mulheres realizavam abortos em Badajoz. Nesse mesmo ano, em toda a província da Estremadura (onde se situa Badajoz), foram realizados 850 abortos.
  • Em 2004, a taxa de abortos em Espanha era de 15.8%. Nesse ano, na Estremadura foi de 10.7%. Não se verifica a tal diferença que seria de esperar em relação à média nacional.
  • No ano de 2004, a taxa de abortos na Galiza (onde se situa Vigo) foi de 11.1%. Mais uma vez, não se verifica a discrepância que seria de esperar se houvesse muitas mulheres a abortar naquela região.
  • A taxa de abortos em Madrid, em 2004, foi de 19%. Aqui verifica-se uma discrepância. No entanto há alguns factores a considerar: Madrid é uma zona fortemente urbana e por isso com mais tendência a existir abortos e porque razão iriam as portuguesas a Madrid se o poderiam fazer muito mais perto e portanto gastar menos dinheiro?
  • As províncias espanholas que fogem claramente à média nacional são as Astúrias (20.6%) e as Ilhas Baleares (20%), ou seja, zonas altamente improváveis para a realização de abortos por parte das mulheres portuguesas.
Concluindo: as 2 zonas onde seria mais provável encontrar mulheres portuguesas a realizar abortos são algumas das zonas com a taxa de abortos mais baixa de Espanha. Poderia argumentar-se que essas 4000 mulheres se dividem pelas várias regiões. No entanto, bastaria que apenas 1000 abortassem em Badajoz (a zona mencionada como a mais provável) para que a taxa de abortos na Estremadura passasse de 10.7% para 21.9%. Bastaria que apenas 1000 abortassem em Vigo para que a taxa de abortos na Galiza passasse de 11.1% para 16.8%.

13 comentários:

Anónimo disse...

um dia destes e a tua irmã ha-de chegar a casa violada por um toxicodependente e depois tens um irmão ou sobrinho que vais de cereza amar muito...tanto como a tua irma ha-de, a partir daì, amar a sua própria vida. quanto ao dinheiro, quem não quer que Emigre pa paìses aìnda mais atrasados(os que se adecuam a esses) que aì entao....não se paga nada.....mas também nao se tem nada, que é o que querem para todos. Abram-se um pouco e vão ver que não teem o direito de decidir a vida das outras pessoas, mas sim o dever de dar aos outros liberdade de escolha e nºao substimar os seus princípios e necessidades!...."já agora, vale a pena pensar nisto!"

fernando alves disse...

Já agora, poderia ter comentado o post em si sobre as contradições no número de abortos.

Quanto à violação, não sei se sabe mas está previsto na lei que se possa abortar nesses casos.

Eu não quero o direito de decidir sobre a vida das outras pessoas mas você quer dar esse direito a toda a gente e ainda por cima com o apoio do estado. Sim, porque o que está aqui em jogo é a vida do embrião que um dia será uma pessoa igual a si.

Bruno Machado Vasconcelos disse...

Igual a si? Ou então não... Vejamos, se a nossa mãe tivesse feito algum aborto, nunca hoje estariamos aqui para debater este assunto, e podemos verificar que antigamente, existia muito menos informação do que há hoje, portanto a minha convincção é não! E será sempre o não, apenas sim dentro dos limites que a nossa lei abrange.

fernando alves disse...

Meu caro Bruno,
se antigamente era por causa da falta de informação, hoje, infelizmente, é pelo facilitismo e pelo relativismo.

Seja bem vindo ao debate e informo-o que vou adicionar o seu blogue à minha lista de blogues pela vida.

A propósito, ninguém comenta as contradições nos números. Porque será?

Anónimo disse...

Fernando Alves,

Fui navegar pelo link de onde tirou os dados e não fiquei nada bem impressionado com o que vi. É a página pessoal de um militante pela proibição da IVG, cristão evangélico, que em 2001 tratava os cientistas que alertavam para o aquecimento global como feiticeiros e acreditava piamente nas armas de destruição maciça no Iraque. Escreveu também um artigo sobre a relação entre o aborto e o cancro da mama mas segundo sei não há provas disto. Não são boas referências.

Mas segui os links das fontes que ele indicou (excepto o primeiro, "Los numeros del holocausto", com este nome nem vale a pena ir ver). Os outros são do Ministerio de Sanidad e Consumo e do INE espanhol.

Não percebo grande coisa de estatísticas mas os números do MSC parecem confirmar o seu post. No entanto são completamente diferentes dos que apresenta, com percentagens de número de IVGs mais baixas.

Houve duas coisas que me chamaram a atenção: a grande maioria das IVGs são realizadas antes das 8 semanas; e o motivo de saúde materna para a realização da IVG andava perto dos 100%.

Bruno Machado Vasconcelos disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Bruno Machado Vasconcelos disse...

Antes de mais gostaria de agradecer as boas vindas, dadas por si. Gostaria de dizer primeiro que a razão pela qual este referendo se realiza, é devido à guerra parlamentarizada que estão a fazer, o que me deixa entristecido, ver mais uma vez o povo enganado pelos políticos. Segundo, é de frisar que este referendo vai trazer gastos enormes, em tempo de crise e de contenção de despesas, penso que é uma hipocrisia, estarmos preocupados com um assunto destes. Terceiro, as listas de espera nos nossos hospitais, estão como é do domínio público, caóticas e sem solução à vista, portanto o aborto só viria a piorar, contudo dizem os apoiantes do sim, que se poderia fazer os abortos em clínicas privadas, ora com o novo plano do Sistema Integrado de Gestão para a saúde, há uma cooperação entre as clínicas e hospitais, e as listas de espera, ainda não diminuíram. Já para não falar das reportagens que se irão fazer caso o sim ganhe, ou seja, a importância que se vai dar à primeira pessoa que fizer um aborto legal em Portugal, uma decadência…
Quanto aos números apresentado por si, fica bem claro que as razões dadas pelo sim, não têm fundamento, e o primeiro ponto que falei em cima, fica bem patente na razão pela qual não se dá importância a esses valores.
Quero agradecer ter o link do meu cantinho, o seu também já se lá encontra…
Cumprimentos

fernando alves disse...

Luis V,
significam as suas palavras que não devemos acreditar nestes números porque eles foram compilados por alguém contra o aborto? Olhe que os 20 mil abortos em Portugal foram referidos por alguém a favor do aborto, a APF. Além disso, faltou-lhe referir que também se usaram dos dados do Conselho da Europa e das Nações Unidas.

A maioria dos abortos ocorre antes das 8 semanas, é verdade, mas há clínicas que o fazem às 20, 24, ou 28 mas esses não são contabilizados porque são ilegais. É um negócio e, como deve calcular, há pessoas sem escrúpulos.

O motivo da saúde materna que refere já foi catalogado de "interpretação extremamente abusiva da lei existente" pelos próprios médicos portugueses já que é constantemente invocada a saúde mental da mulher e não a saúde física. Em Espanha, os médicos que trabalham nestas clínicas são considerados a "ralé" da classe pelos seus próprios colegas.

Mas não focou o essencial: há indícios nestes números que indicam que existem milhares de mulheres portuguesas a abortar em Espanha? Eu não os vejo.

Caro Bruno, obrigado pelas suas palavras.

Anónimo disse...

Não é apenas por a fonte ser contra a despenalização. É o conjunto das situações que apontei. Erro sobre erro. Das duas uma, ou o tipo ainda não percebeu que já ninguém duvida que as alterações climáticas estão aí e que as razões para a invasão do Iraque estavam erradas, ou então é muito honesto em mostrar os erros calamitosos do seu passado recente.

Mas esse senhor é irrelevante como lhe dei a entender, porque as fontes que ele deu terão que ser consideradas. Não vi em lado nenhum foram as fontes do Conselho da Europa e das Nações Unidas de que fala.

As IVGs feitas para lá do limite da lei dizem respeito tanto a uma situação de despenalização como de penalização.

Cá, pelos vistos, há igualmente uma interpretação abusiva no que concerne aos casos previstos na lei, dado o número muito baixo de IVGs legais.

As razões que apontou para os tais motivos de saúde materna fazem sentido e até me passaram pela cabeça. Ainda assim acho que era preciso algo mais concreto.

O Fernando diz que não foquei o essêncial mas eu deixei claro no meu comentário que os números pareciam confirmar o seu post. E só digo "pareciam" porque não fiz uma análise exaustiva dos dados nem sou grande conhecedor de estatística. Mas uma coisa eu sei. É preciso muito cuidado a analisar números porque é enorme a facilidade com que se podem tirar conclusões erradas.

fernando alves disse...

Olhe que é possível ser uma pessoa muito inteligente e defender que não há alterações climáticas: o João Miranda, do Blasfémias, embora ele ande muito caladinho ultimamente (só entre nós dois: porque será?).

As referências ao Conselho da Europa e à ONU estão na página sobre os dados gerais do aborto em Espanha.

Muito sinceramente, apesar de esperar que o ganhe o "não", caso ganhe o "sim" preferiria que fossem os hospitais públicos que tratassem do assunto. Não veja isto como uma contradição já que critico o dinheiro gasto e as listas de espera, mas tenho a esperança que, caso fosse tratado num hospital público, a aborto não seria tão banalizado e não haveria os casos de abortos às 20, 24 ou 28 semanas como há em Espanha, nas clínicas privadas. Mas ambos sabemos que isso não vai acontecer, não é?

Concordo consigo que é preciso muito cuidado no tratamento estatístico mas temos que concordar que, efectivamente, há algo nesses números que não faz sentido.

Anónimo disse...

Ainda assisti a um pouco dessa discussão com o João Miranda :)

Partilho consigo essa preocupação, também preferia que o SNS pudesse dar uma resposta adequada. Seria bom apostar forte pelo menos nos casos em que o problema se resolve com os comprimidos.

Evito usar números que não sei de onde vêm, como neste caso das portuguesas que vão a Espanha, mas devo dizer que me fazia sentido pensar que os números espanhóis estivessem inflacionados com as portuguesas que lá vão.

fernando alves disse...

Hummm, estou quase a convencê-lo a votar não... :)

Anónimo disse...

Ahah! Longe disso :) Teria que desmontar a teoria feminista, provar que a clandestinidade é melhor que a despenalização e arranjar forma de valorizar a vida do feto sem recorrer a explicações dogmáticas ou antropocentricas. Fora isso estou perfeitamente disponível.