Certamente que já terá lido algumas daquelas cartas de fetos que falam com as suas mães e lhes pedem para não abortarem. Costumam circular de mail em mail. Não concordo muito com esse tipo de campanha. Devemos sempre apelar ao coração, é verdade, mas um feto não fala. Penso que ninguém se convencerá a votar não só por ler aquilo.
Quando ocorre a fecundação, o corpo da mulher “não o sabe” e continua a sua actividade normal. Se não acontecer algo irá ocorrer uma menstruação que destruirá o embrião. Por isso, assim que é formado, o embrião produz uma hormona, a HCG, que “avisa” o corpo da mãe que ele “está ali”. Em resposta o corpo da mulher produz estrogénios e progesterona, duas hormonas que impedem que ocorra menstruações durante a gravidez e acondicionam as paredes do útero para que o embrião possa nidificar. É o corpo da mãe a dizer “estou preparado para te acolher”.
O corpo da mulher não consegue produzir grandes quantidades de estrogénios e progesterona durante muito tempo. É então que se dá “a passagem de testemunho” e, a partir das 8 semanas, é a placenta, um dos anexos embrionários, que a produz. Estas duas hormonas induzem o desenvolvimento das glândulas mamárias. O feto parece dizer “por favor, prepara-te para o meu nascimento” e o corpo da mulher responde “está descansado”.
Chegados os 9 meses, a placenta cessa repentinamente a produção de progesterona, o que provoca uma enorme contracção. “Chegou a hora de eu nascer”, parece dizer o feto. O corpo da mulher “sabe” que aquela contracção não é suficiente para que ocorra o nascimento e por isso produz outra hormona, a oxitocina, que provoca ainda mais contracções. Mais contracções desencadeiam ainda mais produção de oxitocina. É um círculo vicioso que causa a cada vez maior frequência de contracções que conduzirá ao nascimento da criança.
Já cá fora, a criança precisa de alimento. E aqui verifica-se outro fenómeno espantoso. O corpo da mulher só produz leite se a criança o pedir, isto é, quando o bebé mama, na realidade, ele não está a succionar, mas sim a enviar um estímulo ao corpo da mãe. Este, em resposta, produz duas hormonas, a prolactina – que fomenta a produção de leite, e a oxitocina – que promove a contracção das células que rodeiam as glândulas mamárias para que estas expulsem o leite que produziram.
11 comentários:
Bom dia Fernando,
Antes de mais obrigado pela informação que passa, nomeadamente a do site com informação sobre o aborto.
Quase ninguém vê a perspectiva da mulher que até quer ter o filho mas que é pressionada quer pela entidade patronal ou pelo marido a abortar. Se a liberalização passar, teremos as mulheres muito mais desprotegidas. Mas claro está que quem defende a liberalização nem sequer menciona estes casos.
Também confesso que não esperava outra coisa visto que logo de partida assumem que a mulher deve dispôr do seu corpo, "esquecendo" que não é do seu corpo que vai dispôr mas sim de um ser humano, de uma vida!
(eu vou arrepender-me de entrar nesta linha de argumentos, mas pronto, não tenho remédio...)
Também acho que a maternidade pode ser uma relação única e maravilhosa (a minha é, pelo menos). Mas às vezes também é um pesadelo, como infelizmente bem sabemos. As relações de amor e amizade, por exemplo, também são únicas e maravilhosas, mas ninguém nos obriga por lei a entrar nelas..
15000 é o número de crianças em risco em Portugal segundo dados da protecção de menores. 15000 crianças que estabeleceram relações "lindas" com a mãe enquanto fetos, mas que mal nascem começam a apanhar pancada, servem de cinzeiro, são violadas, maltratadas e por vezes assassinadas pelos maravilhosos pais. É claro que este fenómeno não acontece em países civilizados como a Holanda ou a Finlândia. Têm opinião formada sobre o assunto ou o direito das crianças é um valor absolutamente secundário face ao direito à vida intra uterina?
Obrigado
O caro anónimo tem as ideias um pouco confusas, senão vejamos:
1. Resolver o problema das crianças maltratadas é abortá-las? Eu diria que é dando meios às associações de ajuda a essas crianças. Quer dizer que as crianças maltratadas ou nascidas num meio pobre nunca serão felizes? E como o anónimo determina que crianças serão felizes? O que é ser feliz? Ter uma playstation e um leitor de mp3?
2. Não existem crianças maltratadas na Holanda ou na Finlândia? Tem a certeza disso? Como chegou a tal conclusão? Olhe, bastaram 2 minutos de pesquisa na net para chegar a estes dados:
"Every year thousands of children in the Netherlands are being mistreated. Estimations run from 50.000 till 80.000 children a year. Each year 50 till 80 children die because of child abuse. The Advice and Reporting Centres for Child Abuse and Neglect (ARCAN) receive each year about 18.000 reports. This is only a part of the total amount of cases of child abuse."
Pode ainda constatar nestes links:
http://www.defenceforchildren.nl/ariadne/loader.php/en/dci/eng/activities/Abuse/
http://www.bmj.com/cgi/content/full/331/7516/534-c
http://cjb.sagepub.com/cgi/content/abstract/23/2/304
que o governo holandês está muito preocupado com casos de pedofilia, violencia sobre as crianças, mutilações genitais e até rituais satanicos envolvendo tortura de crianças.
Para a próxima, informe-se melhor e não caia no sensacionalismo da TVI e do BE.
Cara fuckit,
efectivamente, ninguém nos obriga a entrar nesse tipo de relações. É por isso que o aborto em caso de violação já está previsto na lei.
1. Não falei de violação, mas de qualquer gravidez que uma mulher tenha sem querer ser mãe.
2. Os maus tratos infantis não são exclusivo de famílias pobres (quanto muito, esses casos descobrem-se com mais facilidade).
3.Por fim, ka, uma mulher que quer ter um filho e aborta "porque o patrão quer" provavelmente seria muito pouco capaz de dar a esse futuro filho o mínimo de protecção e cuidados que lhe são pedidos. Ninguém aborta sem o querer, como ninguém devia ter filhos sem o querer.
Mas julga que o facto de o aborto ser ilegal impede que namorados ou maridos exerçam pressões? Think again...
Como sabemos, sempre haverá pressões exteriores para que as mulheres abortem. O que a Ka quis dizer, penso eu, é que com a lei actual as mulheres estariam melhor protegidas dessas influências exteriores.
A sério? Com um aborto legal, feito num estabelecimento de saúde, esses tais casos não seriam mais facilmente despistados através de aconselhamento, etc? Não haveria mais condições para uma mulher tomar uma decisão mais informada e pensada?
Obrigado Fernando!
Era precisamente isso que queria dizer.
Claro que já existem pressões mas neste momento a mulher que queira ter um filho tem a lei do seu lado! Imaginem uma mulher que queira ter um filho e o marido/companheiro a dizer-lhe que, como ele não quer, "ela que trate do assunto" pois o aborto até é legal"!!! já viram a pressão a que estya mulher estará sujeita?
Caro fuckitall, quando comentamos estes exemplos, sabemos de antemão que isto se passa nas classes mais desprotegidas.- Claro que o patrão não irá ordenar para abortar!!! Mas quase de certeza que irá dar a entender que se a gravidez fôr adiante o posto de trabalho irá "á viola". E isto numa família crênciada tem um peso enorme. Ao contrário do que apregoam os movimentos de defesa do sim esta lei irá desproteger totalmente as mulheres, mas acima de tudo uma vida que já existe, que é única e irrepetível mas que não se pode manifestar.
Os movimentos de defesa da liberalização do aborto tÊm argumentos egoístas pois a mulher é o centro de tudo: a mulher tem de ficar protegida, a mulher tem direito a dispôr do seu corpo, a mulher, etc etc, etc
Caros se a mulher deve dispôr do seu corpo de forma consciente! Sou mulher e só fiquei grávida quando quis!!! E se por acaso tivesse ficado grávida sem o querer, nunca teria a arrogância de tirar uma vida só porque não a queria, ou porque não dava jeito, etc, etc
Cara fuckit,
como bem sabemos, os abortos serão feitos em clínicas privadas. Acha, portanto, que essas clínicas irão abdicar do seu lucro e informar a mulher sobre as alternativas ao aborto?
Em clínicas privadas, já eles são feitos... Apenas, se for legal, será possível impôr regras para a sua realização, como há noutros países onde esta legalização existe (EUA, RU, etc). E que essas regras incluam um mínimo de informação e apoio.
A ver se nos entendemos: eu não estou, como se costuma dizer, "a feijões" quando digo que defendo o direito à escolha. Isso quer dizer direito a escolher abortar, mas também direito a escolher não abortar, mesmo quando todas as condições (incluídas as de saúde) 'empurrem' para o aborto. Acho é que ambas as coisas ficam melhor salvaguardadas quando as coisas forem feitas legalmente e de forma controlada, e não no regime de mercado selvagem em que funcionam agora.
É preciso recordar-lhe os casos de mulheres dinamarquesas que vão a espanha fazer abortos a fetos com mais de 6 meses?
Num negócio privado facilmente se quebram regras. No ilegal mais ainda, claro. Mas não acredito que o legal seja muito melhor.
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