Lembra-se desta frase?
"Um embrião é uma coisa descartável, tendencialmente excessiva, que eventualmente nidifica nas entranhas de uma pessoa fértil."
"Um embrião é uma coisa descartável, tendencialmente excessiva, que eventualmente nidifica nas entranhas de uma pessoa fértil."
O Dragão escreveu um post notável sobre esta pérola da Susana. Destaco este excerto:
"Conclusão: se falha clamorosamente na definição do embrião, o axioma supracitado é, em contrapartida, deveras perspícuo na definição de outras coisas. A mais irónica delas é que a nossa esquerda moderna - a nossa esquerda urbana, feminina, sensível, idólatra das minorias, dos estrangeiros e dos aleijadinhos -, professa, apregoa e defende com unhas e dentes o neo-liberalismo das entranhas. Quer dizer, é toda solidária e social por fora e toda egoísta e selvático-capitalista por dentro.
"Conclusão: se falha clamorosamente na definição do embrião, o axioma supracitado é, em contrapartida, deveras perspícuo na definição de outras coisas. A mais irónica delas é que a nossa esquerda moderna - a nossa esquerda urbana, feminina, sensível, idólatra das minorias, dos estrangeiros e dos aleijadinhos -, professa, apregoa e defende com unhas e dentes o neo-liberalismo das entranhas. Quer dizer, é toda solidária e social por fora e toda egoísta e selvático-capitalista por dentro.
Por uma questão de coerência, devia bater-se, com o pundonor característico, por uma alteração imediata na terminologia da pergunta a referendar: em vez de "interrupção voluntária da gravidez" devia figurar "deslocalização do útero" ou "despejo de excedentário"."
A propósito, estas senhoras opinam que a opinião da Susana é "um dos melhores argumentos desta campanha".
Via Timshel
Via Timshel
11 comentários:
Fernando, cá volto a entrar-lhe em casa... só para dizer que opino sim senhor, por achar que é duma clareza poética na distinção entre embrião (que é uma entidade biológica) e filho (que é uma entidade psico-social). E por achar também que uma parte muito importante da discussão passa por esta distinção.
A fuckit é sempre bem-vinda!
Por acaso não penso que o embrião seja apenas uma entidade biológica, por estranho que isso lhe possa parecer.
Considero que ele é também uma entidade psico-social, não pelas vivências dele (que não as tem, como é óbvio) mas sim pela teia de sentimentos que ele desencadeia "fora do ventre" que incluem a mãe, o pai, a família e a sociedade em geral.
Uma coisa é de admirar nesse argumento: foi sincero e não apelou ao estatuto de "coitadinha" para a mulher que aborta que, como nós bem sabemos, nem sempre é a tal "coitadinha" que a sociedade pensa que ela é.
Completamente de acordo.
É quando o embrião se enche de significados que se torna um filho; senão, não.
E não podia concordar mais, irrita-me para lá do que sei explicar a conversa da coitadinha - que existe dos dois lados desta discussão. Seja qual for a nossa posição, admitamos que as mulheres são pessoas inteiras, com capacidade de escolha e decisão sejam qual forem as circunstâncias, legais ou outras.
...e que o aborto não é só uma realidade referente a quem tem circunstâncias exteriores a dificultar a maternidade (seja falta de dinheiro, falta de idade ou falta de família), mas que também há muitas mulheres que abortam porque não querem, por razões pessoais e interiores, ter um filho naquele momento. Eu acho esta uma razão mais que válida; o Fernando, evidentemente, não. Mas, para o bem e para o mal, não se escamoteie que também há esta realidade.
Eu sei que essa realidade existe e por isso coloco-lhe esta questão:
É legítimo que uma mulher aborte sem sequer dar conhecimento ao seu marido (repare, marido, e não parceiro) que está grávida de um filho dele (dele e não doutro)?
Já que falamos de "coitadinhos", não será neste caso o marido um "coitadinho"?
Pessoalmente não acho legítimo, mas acho que cai no reino da ética que temos (ou não) nas nossas relações pessoais.
Para ser clara: Quer se goste quer não, é no corpo das mulheres que a gravidez ocorre. Claro que as mulheres podem abortar sem consultar os parceiros, maridos ou não - como podem procurar engravidar sem lhes perguntar se estão ou não interessados em ser pais. Podemos discutir se isto é correcto, mas não vejo a relevância para esta conversa: a legalização do aborto muda alguma coisa a este respeito? As mulheres podem fazer isto quer o aborto seja legal quer não.
Quer se goste quer não, a mulher não engravida sozinha, e estarmos a afastar o pai dos seus direitos é inconstitucional e um grave precedente.
Aliás, enquanto muitos pensarão que isso seria feminismo puro (que é tão errado quanto o machismo), eu sou da opinião que se trata de uma manifestação de machismo, na medida em que se iliba o pai de qualquer responsabilidade e isola a mulher na tomada desta difícil decisão.
Pergunto outra vez, com o aborto clandestino há mais probabilidade do homem ser informado, consultado e a sua opinião levada em conta?
Não, não há. Mas se estamos a tentar fazer uma lei para regular o aborto, não acha que essa lei deveria também levar em conta esse problema? Não acha que deveria responsabilizar o homem, algo que na clandestinidade não acontece?
ponto 1, não estamos a fazer uma lei para regular o aborto neste referendo, estamos a votar a alteração do código penal que criminiliza a prática do aborto. a regulamentação legal só virá depois
Acha que se o sim ganhar, e com a menção específica da vontade da mulher na pergunta, se vai alterar depois e obrigar a ter em conta a vontade do homem?
Enviar um comentário