quarta-feira, janeiro 10, 2007

Macaquices

O partido socialista espanhol pretende reconhecer direitos humanos aos símios. A ideia não é nova. Já em 1998 se falava disso na Nova Zelândia e nos Estados Unidos. Esse estatuto é defendido por alguns filósofos e activistas dos direitos dos animais.

Em Portugal, no dia 11 de Fevereiro, vamos referendar a retirada de direitos humanos aos embriões e aos fetos com menos de 10 semanas.

Definir a vida humana apenas com base na consciência e na senciência tem destas coisas: atribuir mais valor à vida de um macaco do que à vida de um feto.

19 comentários:

Anónimo disse...

Estranhamente, o acórdão 617/2006 do Tribunal Constitucional, que em Novembro passado verificou a constitucionalidade do referendo, começa por apresentar os projectos de lei que foram reprovados e ignora o 19/X/1 do partido socialista, que está subjacente ao referendo, aprovado em Abril de 2005.

Acontece que nesse projecto se propõe uma alteração ao Código Penal que contempla a exclusão de ilicitude do aborto “por razões de natureza económica e social” até às 16 semanas (cf. alínea c do nº1).

É patente a armadilha estendida ao cidadão votante no referendo: se as 10 semanas vencerem, a liberalização irá na prática até às 16, uma vez que as sobreditas “razões” económicas ou sociais não excluem “pedidos” e “opções”. Isto se o processo legislativo subsequente ao referendo não alterar nada, o mais provável uma vez que este expediente satisfaz mais que amplamente o que estava proposto nos projectos dos outros partidos de esquerda.

Urge denunciar e esclarecer a situação.

fernando alves disse...

Devo dizer-lhe que já sabia disso mas, por erro meu, nunca o tinha referido aqui. Foi muito oportuna a sua intervenção e vem lançar o debate sobre as verdadeiras intenções do PS.
Como deve imaginar, qualquer coisa cabe no "saco" dos problemas económicos e sociais.

E é de realçar a falta de honestidade do PS em não assumir o verdadeiro alcance deste referendo.

Anónimo disse...

Sabe que este tipo de comparações tem uma triste história. Quem sabe no futuro vão olhar para o seu pensamento como nós agora olhamos para aquelas imagens do Darwin com corpo de macaco ou aquelas pretensões dos racistas em não assumir a humanidade dos negros....

fernando alves disse...

Bem, o Luis não o assume directamente mas pelo seu discurso depreendo que concorda que se atribua direitos humanos aos símios e se retire esses direitos aos fetos humanos.

Eu sou mais da opinião que um dia, no futuro, olharão para nós e pensarão "em que pensariam as pessoas do sec XXI quando atribuiram mais importância aos chimpanzés do que a um feto humano?".

Não me fale de Darwin que eu sou formado em Biologia! Mas sou sincero: Darwin não me convence totalmente. Eu inclino-me mais para o Neolamarckismo. Mas isso são outros assuntos.

Retomando o tema do humanismo e respondendo ao seu comentário no outro post, sabe Luis, o seu problema é racionalizar tudo, é tentar encontrar uma explicação universal para a definição de vida. Ao fazê-lo, nega o seu humanismo. Não se trata de uma questão religiosa, mas a verdade é que a fé, a irracionalidade, a dúvida e a contradição são uma parte crucial da nossa personalidade. Não sei quais são as orientações políticas do Luis, mas diria que se deverá inclinar para o Marxismo.

Luis, o Homem não é uma máquina. Não queira explicar tudo na humanidade com critérios universais e indesmentíveis. O dia em que esquecermos a nossa fé, a nossa irracionalidade e as nossas contradições seremos apenas máquinas.

Quer uma razão universalmente válida para defender a vida intra-uterina? É o amor. É a nossa irracionalidade. É o que faz de nós humanos.

A minha verdade disse...

A questão do prolongamento para as 16 semanas já foi bastante discutida e mencionada por vários blogs contra a despenalização (incluindo no meu).

Chegou-se mesmo, através do grupo "Mulheres em Acção", no passado 15 de Novembro, a enviar um pedido de esclarecimento ao presidente do grupo parlamentar do PS sobre a questão, carta também endereçada ao Presidente da Assembleia e ao Presidente da Republica. Que eu saiba, nunca chegou a haver resposta.

Sei ainda que alguns deputados do PS apresentaram na Comissão Parlamentar de Saúde uma proposta de alteração ao Projecto de Lei que retira as 16 semanas.

Porém, essa proposta nem sequer foi votada.


Como vêem, caros amigos, eles apenas aguardam o SIM dos portugueses. A parir daí, é fartar vilanagem. A rotina habitual, portanto.

Anónimo disse...

Caro Fernando,

Eu poderia dizer o mesmo sobre a sua falta de humanismo, a sua hiper-racionalização, chamar-lhe a atenção por não entender o sofrimento e até lhe poderia falar de amor. A diferença é que lhe estaria a falar das mulheres que pretendem interromper a gravidez e não dos fetos. É uma diferença significativa porque uma mulher é incomparável a um feto, embora esta ideia não seja tão aceite socialmente como devia. O nosso pensamento diverge porque eu procuro entender e agir sobre o que existe, o que é real, ou seja, procuro entender a situação das mulheres em questão e o seu sofrimento, enquanto o Fernando apega-se a um ideal (a uma fé, irracionalidade ou que lhe quiser chamar), mas é apenas isso, uma moral sobre uma potencialidade. Não se trata de mecanizar a vida humana (nesse sentido penso que o Fernando também não o faz), mas sim de ter em atenção uma coisa tão prosaica como o sofrimento.

Não sei porque lhe pareceu que eu seria adepto do marxismo porque, penso eu, não há ideologia mais materialista e mecanicista que a da direita capitalista e neo-liberal. Mas não, não sou marxista, nem de esquerda. Não quero saber de tricas políticas e das suas elites iluminadas.

Por último envio-lhe o site do Great Ape Project que eu considero uma excelente iniciativa. Pretende atribuir aos grandes primatas (gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos) alguns direitos tendo em atenção as suas características (por exemplo, o direito a não serem torturados). Mais uma vez é o sofrimento que está em causa. Uma das promotoras da iniciativa é a primatóloga mundialmente reconhecida Jane Goodall, uma mulher incrível que actualmente está a trabalhar com crianças desfavorecidas socialmente, se bem me lembro na China.

fernando alves disse...

Acho que foi precisamente no blog Aqui há Esperança, do Jardim do Arraial, que vi pela primeira vez essa notícia. Infelizmente, o governo não está a ter uma atitude clara neste assunto nem no facto de não fornecer números reais das mulheres julgadas em tribunal, por exemplo.

É precisamente por amor e por humanismo que defendo o apoio às mulheres com problemas na gravidez. Dar-lhes o direito a abortar é o pior que lhes podemos fazer. Além do sofrimento físico e psicológico que acarreta a realização de um aborto, mesmo que legal, a maioria das mulheres, segundo uma sondagem da plataforma não obrigada, não abortaria se alguém as tivesse ajudado.

Fico feliz por saber que não é marxista! Desculpe, mas pareceu-me. Estava enganado. Repare, eu não sou contra a atribuição de direitos humanos aos grandes símios. Só não concordo que eles sejam mais valorizados do que um feto humano.

Já que estamos numa de trocar sites, aconselho-o a visitar este:
http://www.sobreoaborto.info/

FuckItAll disse...

Fernando, saúdo - e sem nenhuma ironia - a sua defesa da irracionalidade e da contradição. Eis uma opinião que partilhamos. Apenas eu defendo-a na minha vida, não na elaboração de leis.

fernando alves disse...

Não me diga que a fuckit é daquelas que nunca realizaria um aborto mas vota sim?

A fuckit é contra o abuso de menores mas admite que os outros abusem? É contra a pena de morte mas admite que os outros matem se assim o entenderem?

Eu entendo a sua posição: acha que ninguém deve impor aos outros uma opinião. Mas repare: estamos sempre a fazê-lo!

Poderá contrariar e dizer que não é uma opinião mas sim uma moral. Eu, sinceramente, não acho que seja uma moral.

FuckItAll disse...

Realizaria, se me visse grávida sem querer ter um filho, o que nunca me aconteceu. Mas acho perfeitamente defensável que alguém diga que nunca o faria, mas defende o direito de outros o fazerem. Tal como há opiniões que eu nunca teria, mas defendo o direito de outros a terem-nas, etc.

Sou contra o abuso de menores e a pena de morte SEMPRE E EM QUAISQUER CIRCUNTÂNCIAS - porque, lá voltamos à velha questão, aí acho que se trata de pessoas, com um direito inalienável à integridade física e moral.

E sim, concordo que passamos o tempo a defender as nossas opiniões - que estamos nós a fazer neste debate senão isso? O que quis dizer foi que não defendo a inscrição de irracionalidades e contradições na lei. A lei (para mim) deve ser clara, consistente e racionalista. A irracionalidade e a contradição devia ser apanágio dos indivíduos (se não é mesmo aquilo que os define).

O melhor dos blogues disse...

Achei interessante este post. Tinha lido há tempos nos jornais mas não tinha ligado.
"Roubei-o" para "O melhor dos blogues". Creio que se não vai importar.

fernando alves disse...

Meu caro,
claro que não me importo. Aqui pode "roubar" tudo o que lhe apetecer.

Um abraço.

FuckItAll disse...

Ah, Fernando, ia-me escapando mais esta oportunidade para fazer "declaração de interesses": juro que não faço de propósito para o contrariar, mas eu, ao contrário do Luís V., até sou assim meio pró marxista.... ;)

fernando alves disse...

Marx era um tipo fixe. Os marxistas é que estragaram tudo.
É assim um pouco como Cristo e alguns padres.

R disse...

você não tem direito de falar de amor, quando defende que as mulheres devem ser julgadas sem sequer saber os motivos que as levam a fazer um aborto e o desespero em que estas se encontram!
Já agora, se defende tanto a vida, porque é que concorda com a actual lei? Caso não saiba, é legitimo fazer aborto em caso de deficiencia do feto, e eu pergunto-lhe: um feto com deficiencia tem menos direitos do que os outros? então porque é que ninguém os defende? você que é tão defensor da vida já devia ter pensado nisso? não estará a ignorar porque lhe é mais conveniente? porque é mais fácil excluir os deficientes? ao menos os defensores do "sim" não chegam a esse ponto...

fernando alves disse...

Eu não defendo que as mulheres devam ser julgadas. Defendo que tenham a ajuda que necessitam para não abortar.

Concordo com as excepções previstas na lei e elas estão bem explicadas por muita gente. Nesses 3 casos, existe uma força maior que permite o aborto. Não considero que um azar ou um descuido com um contraceptivo seja um motivo de força maior.

Anónimo disse...

eu também não defendo que as mulheres devam ser julgadas, e também defendo que tenham ajuda que necessitam para não abortar, e é por isso que defendo o sim, precisamente para não serem julgadas... a questão de lhes dar ajuda não passa pelo sim ou pelo não, passa pela nossa sociedade se organizar... de qualquer maneira continua a contradizer-se, e não justifica e não me explica porque é que um feto deficiente é "menos feto" do que os outros... tem tanta vida como os outros, que eu saiba

fernando alves disse...

No caso dos fetos deficientes dá-se o que se pode designar por abrangência do critério, isto é, a excepção foi feita para casos de deficiências que originassem sofrimento extremo às crianças. Acontece que se generalizou e até se pode abortar um feto com trissomia 21, que já não é tão grave como a espinha bífida, por exemplo.

solitarioh2005 disse...

É curioso que eu tive a mesma ideia . Reparem no que fiz no meu blog.

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