sábado, janeiro 06, 2007

A questão económica II

Tentem descobrir a autoria do seguinte texto (a resposta está no último parágrafo, não vale espreitar antes):

SEJAM POUPADOS, NÃO ADOEÇAM!
"Para todos os que leram e ainda não esqueceram o programa eleitoral do PS ou o programa do governo - e, sobretudo, para aqueles que acreditaram no que leram, o ano de 2006 fica marcado pela desilusão, pela frustração.

A política de saúde foi assaltada por uma obsessão que se sobrepõe a qualquer outra consideração: a redução da despesa pública com a saúde dos portugueses e com o funcionamento do SNS. As contas tomaram conta da política e o ministro virou contabilista. Impôs a regra dos cortes cegos, indiferente à perturbação dos serviços, à qualidade dos cuidados, à realização dos profissionais. E comprometendo, limitando, dificultando o acesso dos cidadãos aos serviços do SNS.

Todas as medidas foram de sentido único: retalhar, amputar, encolher o SNS, reduzir a oferta pública de serviços de saúde, como principal instrumento de redução da despesa pública. Se os portugueses não se tratarem quando adoecem, se os portugueses não recorrerem aos hospitais e aos centros de saúde do SNS, se não fizerem os tratamentos nem tomarem os medicamentos prescritos pelos médicos, então, o Estado gasta menos e o ministro agradece. É esta a lógica de Correia de Campos.

Primeiro, fecharam as maternidades, depois os SAPs e, por último, as urgências. Pelo meio, por via de fusões e integrações, encerraram muitos outros serviços hospitalares.

Não admira, pois, a multiplicação de tantos projectos privados para a construção de grandes hospitais, alguns dos quais já em funcionamento, lançados pelos principais grupos financeiros nacionais, ávidos na exploração e parasitagem do vazio criado pelo desmantelamento do SNS a que Correia de Campos se tem dedicado.

A política do medicamento, bem embrulhada pelo marketing socrático e a cantilena anti-lobbies - aliás desmentida pelo acordo de rendição que entregou à ANF o meganegócio da abertura de farmácias privadas nos hospitais do SNS - rapidamente esqueceu as medidas prometidas (DCI, unidose, formulário nacional para o ambulatório, inovação), medidas que podiam beneficiar os doentes e reduzir a despesa pública, sem comprometer a qualidade e eficácia dos tratamentos. Em consequência, os medicamentos continuam caros e o desperdício persiste.

Por outro lado, a descomparticipação de centenas de medicamentos e a diminuição do valor da comparticipação do estado no preço de venda ao público dos medicamentos, obrigam hoje os portugueses a pagar mais do seu bolso do que pagavam até agora na farmácia.

O ano termina com o aumento do valor das taxas moderadoras e com a generalização da sua cobrança a todos os serviços prestados pelo SNS. É a marca do ano e a marca de uma política. E o anúncio de que o governo pretende mudar as regras de financiamento do SNS: o que até agora era tendencialmente gratuito, passará a ser tendencialmente pago pelos cidadãos. Isto é, não bastam os impostos que pagamos e que pagam o SNS, Correia de Campos quer mais: quer que os portugueses paguem directamente do seu bolso os cuidados de saúde.

Em resumo, no futuro, os portugueses pagarão mais por menos e piores serviços de saúde. De resto, o panorama foi de estagnação e retrocesso. As listas de espera para cirurgia não param de aumentar - são já cerca de 250 mil, o Plano Nacional de Saúde não arranca nem se concretiza, os números da SIDA, da tuberculose ou do cancro permanecem alarmantes, as urgências continuam sobrelotadas e há centenas de milhar de portugueses sem médico de família.

Mas, em matéria de saúde, nem tudo foi mau em 2006. Lembramos a aprovação pelo Parlamento da lei da PMA (procriação medicamente assistida), na sequência de um projecto de lei apresentado pelo BE, e que permite resolver, em Portugal, o dramático problema da infertilidade de milhares de casais. E, ainda, a votação por unanimidade da Carta de direitos de acesso dos utentes do SNS aos cuidados de saúde, apresentada pelo Bloco de Esquerda, importante contributo para facilitar e garantir o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde."

João Semedo, no esquerda.net

Algumas considerações:
1. O BE preocupa-se com a diminuição do dinheiro para as urgências e para os medicamentos mas não se importa que se gastem 20 milhões de euros em abortos.
2. O BE preocupa-se que aumentem as taxas moderadores para financiar o SNS mas não se importa que isso financie abortos.
3. O BE preocupa-se com a invasão de interesses privados no SNS mas não se preocupa com a invasão de clínicas de aborto.
4. O BE preocupa-se com as listas de espera mas não se preocupa com o aumento das mesmas graças ao aborto nos hospitais públicos.
5. O BE preocupa-se com os problemas de infertilidade dos casais mas não se lembra que se poderia fomentar a adopção de crianças abandonas por parte desses casais.

4 comentários:

R disse...

caso não saiba:
1) são gastas bastantes verbas para tratar mulheres vitimas de complicações após abortos sem condições de saúde devidas, verbas essas que serão recuperadas se a despenalização for legalizada, pois o número de complicações passará a ser inexistente, como aconteceu em França
2)por isso não se está a fazer mais um investimento, mas sim uma alteração do serviço em que se investe
3)as listas de espera não vão aumentar, até porque além de um parte dos abortos serem feitos em clinica privadas, a grande maioria dos abortos poderá ser feita em casa tomando medicamentos que têm um efeito semelhante ao do aborto espontâneo, mas com a devida vigia média
4)A adopção de crianças está mais que fomentada em Portugal, você sabe tão bem quanto eu que há milhares de familia que passam anos à espera de poder adoptar, é tudo um problema de burocracia, e não de falta de vontade...

fernando alves disse...

1. Para que fosse mais caro atender as complicações por aborto, cada uma delas teria que custar mais de 13000 euros e isso não acontece.
2. as listas de espera aumentam na área da ginecologia e na obstetrícia.
3. se o aborto for realizado em clínicas privadas correremos o risco de ver mulheres a abortarem aos 6 ou 7 meses de gravidez tal como acontece nalgumas clínicas privadas às quais só interessa o dinheiro.
4. nas clínicas privadas não informariam as mulheres sobre as alternativas ao aborto.

Anónimo disse...

mas supostamente as clinica privadas não são aquelas que não têm lista de espera? até porque caso não fossem não faria sentido recorrer às privadas se no serviço público é gratuito...
mas sobre a informação nas clinicas privadas, o que você está a questionar é o aumento das listas de espera nos hospitais públicos e não a informação que é dada...

Anónimo disse...

e nas clinicas privadas dão informação na mesma, se isso for liegislado fazem-nos tanto no público como no privado, se não fizerem no privado também ninguém nos garante que o façam no público...