sábado, janeiro 13, 2007

Imposições de moral

Existem diversas pessoas que se dizem defensoras do “não” mas irão votar “sim” por “não quererem impor a sua moral a ninguém”. Mas até que ponto se trata de uma imposição de moral?

Insinua-se que a moral entra nesta discussão quando se discute o início da vida. Nada de mais errado. Definir o que é vida e o que não é, não é uma questão de fé, de moral ou de ideologia. É uma questão científica. Cabe à ciência definir o que é vida. Infelizmente, reina uma certa desinformação neste campo. Os defensores do “sim” afirmam que não existe uma definição unânime para o início da vida. Têm razão. O que eles não dizem é que apenas uma das teorias (a tal que justifica o início da vida humana com base na consciência e na senciência, e cuja lógica faz com que se atribua direitos humanos a símios e se retire esses direitos ao feto humano), se situa depois das 10 semanas. Todas as outras teorias existentes (e que recolhem a esmagadora maioria das opiniões dos cientistas) colocam o início da vida humana antes das 10 semanas.

Se é praticamente inequívoco que há vida humana antes das 10 semanas, onde entra então a moral? A moral surge apenas quando atribuímos valor a essa vida humana. Será que a vontade da mulher tem um valor superior à vida humana do feto? Essa é a questão que só pode ser respondida através da moral. Existirão pessoas para quem a vontade da mulher tem uma importância maior e essas votarão “sim” neste referendo. Para outras, o valor da vida humana é inquestionável, e por isso votarão “não”.

Será legítimo impor o valor que nós damos à vida humana às outras pessoas que não pensam como nós? Bem, não fizemos o mesmo quando proibimos a pena de morte? Não o fizemos quando proibimos a caça a espécies em vias de extinção? Não são estes casos imposições de moral? São, mas nestes casos ninguém parece importar-se em impor uma moral. Porquê? Bem, eu diria que, na questão do aborto se confunde moral com religião. Muitas pessoas não querem impor uma moral porque pensam que estão a impor uma convicção religiosa. Na realidade, impor uma moral de nada tem a ver com a religião. Tem a ver com os princípios em que acreditamos. Por muito que todos os credos estejam empenhados na vitória do “não”, esse “não” não é a imposição de uma religião. É a imposição de um valor universal.

9 comentários:

Anónimo disse...

O Aborto Mata !
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Luta pela Vida.
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Prometheus
http://hesperialeuropa.blogspot.com

KNOPPIX disse...

O feto não faz parte do corpo da mulher, não é um apêndice, mas sim uma forma de vida que merece ser defendida.
Voto NÃO porque este referendo não vem trazer nada de novo, o Aborto medicamente assistido já é permitido em situações limite tipificadas na Lei.
Descriminalizar o aborto até às 10 semanas não resolverá o problema de fundo, que é as causas para a sua existência: falta de educação sexual, falta de informação, falta de planeamento familiar.
Em vez de despenalizar um crime, porque o aborto é isso mesmo, um crime, éticamente e moralmente sempre condenável, dever-se-ia criar as condições ou as estruturas que ajudassem os casais ou as mães a cuidarem dos seus filhos.
O argumento de que a despenalização evita que mulheres acabem na cadeia por tal acto ( o aborto), é falacioso: se o aborto for realizado tendo o feto 10 semanas e 1 dia, essa possibilidade continuará sempre a existir.
O que está em causa não é a liberdade da mulher dispor do seu próprio corpo: o feto é um ser vivo e não uma extensão do seu corpo.
Bom Blog, voltarei mais vezes.
Um grande abraço

fernando alves disse...

Muito obrigado pelas suas palavras. Adicionei o seu blogue à minha lista de blogues pela vida.

Liliana F. Verde disse...

Já me tinha deparado com algumas destas questões, sobretudo com a de "impor uma moral". Considero as questões do aborto e da pena de morte, como citou, como questões éticas. Por isso, o princípio que deverá regular as respostas às perguntas de permissão ou não do aborto e da pena de morte são respostas que deverão estar centradas na Ética. Assim, para mim, como o deveria ser para todo o Cidadão, dado a Ética ser universal, um imperativo categórico, é eticamente condenável permitir a morte de um ser humano, quer se trate do seu início (em qualquer fase do período gestacional), quer se trate do seu termo.

Para mim, a questão do aborto é uma questão de Ética importante, e da mais elementar. É por esse prisma que avalio a questão do próximo referendo. E assim sendo, por não compactuar com uma cultura que ignora o primeiro direito ético fundamental do Ser Humano, e ser uma violação dos direitos de uma pessoa em gestação, é que tomo o partido do “Não”.

FuckItAll disse...

Fernando, lamento, mas não posso deixar de comentar que é um abuso dizer que "a esmagadora maioria das opiniões dos cientistas" coloca o início da vida humana antes das 10 semanas. Qual maioria, onde vai buscar isso? Podemos admitir que o assunto é polémico, mas esta maioria é pura ficção.

fernando alves disse...

Não confunda início da vida humana com o início de "pessoa". O início da vida humana reúne um largo consenso entre os cientistas. A altura em que deixamos de ser vida humana e passamos a ser pessoas é que ainda suscita muitas dúvidas.

FuckItAll disse...

Certo; e é aí que surge a tal moral que não acredito dever ser imposta a todos. Não por ser religiosa, mas por corresponder tão claramente a algo acerca do que (1) não há 'confirmação' científica e (2) faz sentido para um sector minoritário da população. Assim sendo, não há razão para quebrar o direito que aqui está em conflito, o de cada mulher à livre determinação do que acontece no seu corpo e na sua vida. Não espero que concorde, mas expliquei-me?

fernando alves disse...

Repare, eu disse que não havia grandes dúvidas sobre o início da vida humana. A vida humana não merece protecção?
Se há dúvidas sobre se o é, ou não, fará sentido optar pela pior solução? Quer dizer, se não se tem a certeza se é vida, o mais prudente será evitar o aborto, não é?

Acha que esse sector é minoritário? Olhe que há muita gente do lado do sim que pensa assim mas não quer "impor morais" aos outros. Mas como se viu, não se trata de impor uma moral mas sim uma verdade cientifica e um principio universal.

Anónimo disse...

Prof. Fernando Alves Correia, homem brilhantissimo