segunda-feira, dezembro 04, 2006

As perguntas perdidas do Não

Análise ao texto "As perguntas perdidas do não" no esquerda.net
"A 11 de Fevereiro decidiremos se as mulheres que abortam devem continuar a ser perseguidas e julgadas. No referendo não estão em causa interpretações sobre a natureza ou o início da vida: quem recusa o aborto também deve votar Sim - as mulheres que tiveram que abortar merecem respeito, devem ter hospitais e não tribunais. Mas esta não é a única pergunta perdida dos defensores da actual lei do aborto."

Perseguidas e julgadas? Quantos julgamentos de mulheres que abortaram houve nos últimos anos? E nos que houve, quem foi condenado? As mulheres ou quem efectuou o aborto? E em que mês de gravidez estavam essas mulheres? Muito para lá das 10 semanas! No referendo não estão em causa interpretações sobre a natureza ou o início da vida? A grande questão é precisamente essa! Ou será que o SIM afinal admite que é mesmo vida?

"A VITÓRIA DO SIM É A LIBERALIZAÇÃO DO ABORTO? Como bem sabem os neoliberais defensores do Não, liberalização é ausência de regras. Pelo contrário, a lei de despenalização estabelecerá regras precisas: a interrupção da gravidez pode ocorrer em estabelecimento de saúde autorizado até às 10 semanas."

Ahhh, a regra é o aborto ocorrer em estabelecimentos de saúde autorizados. Pois...

"PORQUÊ DEZ SEMANAS? A despenalização do aborto nas primeiras dez semanas de gravidez, em condições de saúde acessíveis, reduz o estigma e implica celeridade. O recurso ao aborto depois desse prazo tende a diminuir radicalmente. Os defensores do Não perguntam: «e depois das 10 semanas?». A resposta é: com o aborto clandestino, não há prazos. A actual lei favorece o aborto tardio, que põe em perigo a vida da mulher. Os defensores do Não são indiferentes ao momento da interrupção da gravidez, apenas se empenham na perseguição e no julgamento das mulheres. O Bloco defendeu que o prazo deveria ter sido de 12 semanas, mas não foi esse o entendimento da maioria do parlamento."

Reduz o estigma!! Sim, claro, afinal admitem que não é por abortar que a mulher vai deixar de ter problemas sociais e emocionais. Eles são apenas reduzidos. Será mesmo assim? E a ética ou o desenvolvimento do feto entram onde? Em lado nenhum?

"O RECURSO AO ABORTO VAI AUMENTAR? Nunca foi por ser ilegal que o aborto deixou de ser praticado. Ao dizer que a despenalização aumenta o recurso ao aborto, os defensores do Não brincam com números. Não há estatísticas fiáveis sobre a realidade actual porque o aborto é ...clandestino. Quando vão para o hospital com complicações, as mulheres raramente as atribuem ao aborto clandestino. Com a despenalização, o fenómeno passará a ser estudado e conhecido com rigor. O número de abortos diminuirá porque aumenta a informação das pessoas e a sua protecção."

Alto, alto, alto!!! Pára tudo! Então eles andam por aí a falar dos milhões de abortos ilegais por ano e de milhares de mulheres mortas e afinal agora os números não têm credibilidade? O número de abortos vai diminuir porque vai aumentar a informação? Acha mesmo que ainda haja alguém que acredite que os meninos nascem dentro das couves ou são trazidos de Paris pelas cegonhas?

"NÃO SE PODE DESPENALIZAR SEM GASTAR DINHEIRO NA IVG EM HOSPITAIS PÚBLICOS? É no Serviço Nacional de Saúde que todas as mulheres que decidirem abortar, sobretudo as mais desfavorecidas, podem ter o atendimento adequado. O que evita a gravidez indesejada é informação, planeamento familiar, acesso à contracepção. Essas também são responsabilidades do Sistema Nacional de Saúde. Do ponto de vista económico, a realização da IVG no âmbito do SNS é uma garantia, evitando as complicações que já hoje criam maiores encargos para este sistema. Se fosse feita no sistema privado, as mulheres mais pobres seriam discriminadas."

Claro, o SNS paga (ou seja, todos nós) ou não estivéssemos nós a falar do Bloco de Esquerda, o partido que acha que o Estado é pai de todos nós. Que complicações são essas que criam mais encargos para o sistema? As mulheres que abortam ilegalmente ou as criancinhas que nascem? Essas malditas criancinhas que nascem e que entopem as urgências com amigdalites, otites e outras coisas acabadas em ites! Essas malvadas gastadoras dos recursos do SNS!

"NÃO SE PODE MANTER A LEI ACTUAL E ACABAR COM OS JULGAMENTOS? Esta é a proposta de quem quer esconder a humilhação dos julgamentos para continuar a humilhar com a ilegalidade. Além de manter os actuais perigos do aborto clandestino, a suspensão dos julgamentos não acabaria com a perseguição das mulheres, que continuariam a ser investigadas pela polícia e cuja vida continuaria exposta em processos judiciais."

Que julgamentos? Ainda não percebi... Foram assim tantos? Onde estive eu estes anos todos para não ver isso? Humilhação das mulheres? Não será maior humilhação oferecer-lhes o aborto como a única solução? Se uma pessoa está à beira do suicídio, o que faz você? Oferece-lhe uma pistola?

"Até 11 de Fevereiro, os defensores do Não tentarão encher o debate de perguntas. Mas são perguntas perdidas. Nas caixas de correio, haverá fotografias ameaçadoras e manipuladas. Mas o país já percebeu que, no boletim de voto, só sobrará uma questão: chegou a hora de acabar com a perseguição e o julgamento de mulheres por aborto? Portugal vai acertar o relógio com o seu tempo. E dizer Sim de vez."

Cá está! A perseguição e os julgamentos outra vez. Sim, sim... E as fotos ameaçadoras e manipuladas. Que mauzinhos que nós somos! Nós e aquelas freirinhas radicais e fundamentalistas que cuidam das crianças das nossas instituições. E vamos acertar o relógio com o nosso tempo? Pois sim... Os outros países a restringirem o aborto cada vez mais e nós a liberalizá-lo. Estaremos no caminho certo?

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