quinta-feira, dezembro 28, 2006

Passado, presente e futuro

Há comentários em blogues que merecem muito mais destaque do que o que têm numa caixa de comentários. O seguinte comentário, da autoria de kephas, no blogue do não, é o exemplo perfeito de uma argumentação coerente contra o aborto e capaz de desfazer o argumento de que o "não" pertence ao passado e o "sim" ao futuro.

"Ao contrário do que o Sim quer fazer parecer, o Não não deriva de uma forma medieval de conceber o Mundo. O passado também pertence ao Sim... em Inglaterra, onde tudo começou, o aborto foi tornado ilegal em 1803... Diga-me vexa. quando é que a taxa de mortalidade materna seria menor: em 1800 ou em 1967 (quando o aborto se tornou legal de novo em Inglaterra)? Será que a redução da mesma taxa desde 1967 para actualidade é comparável? Ou será que o segredo está nas melhores condições sócio-económicas e não tanto no aborto?

Outra situação: em 1973 (quando a Lei para a descriminalização do aborto foi aplicada nos E.U.A.), a taxa de morbilidade e mortalidade por abortos clandestinos estava já em declínio franco (sabe-se isto porque, sendo ilegal, todas as complicações de um aborto tinham obrigatoriamente de ser notificadas). Esse declínio deveu-se às melhores condições sanitárias e à descoberta dos antibióticos. A diminuição de mortes subsequente à liberalização do aborto nos E.U.A. pode ser extrapolada como uma continuação dessa curva descendente (ou seja, este efeito legal não é tão significativo quanto isso. Dados do National Center for Health Statistics em 1981.

Quando em 1984, a actual Lei foi aprovada, um dos motivos era acabar com o aborto clandestino! Não acabou, pelo que os adeptos do Sim nos estão constantemente a dizer! Afinal foi o Sim que falhou! Porque deveremos então (pela sua lógica), enveredar pelo caminho que o Sim aponta? Claro que o aborto clandestino será abolido se o Sim ganhar... porque deixará de ser CLANDESTINO! É uma mera questão de semântica!

Então quando surgiu esta alegada supremacia do Não? Quando o aborto passou a ser visto como um problema humano e não legal, por volta das décadas 80 e 90. Só então surgiu esta discussão (anteriormente, embora ilegal, não se falava de estratégias para combater o aborto... a proibição era considerada auto-suficiente; ou seja, os Não de então são diferentes dos Não de agora, que tomaram consciência de que são necessárias medidas complementares). Depois do debate, o Não só "ganhou as eleições" em 1998, aquando do referendo.

Quanto tempo passou? 8 anos! Pouco mais de um mandato legislativo! E o Não não é um partido no Poder! Implementar todas estas medidas que sugerimos (apoio às mães carenciadas, maior agilização dos processos de adopção, a implementação de uma educação sexual RESPONSÁVEL, o desenvolvimento de estratégias de Planeamento Familiar) é impossível no tempo requerido... e muito menos a avaliação da eficácia dos métodos utilizados (embora, pelos casos supra-citados, saibamos de antemão, que as falhas sociais, económicas e educacionais fazem uma grande diferença em Saúde Pública). Todavia, o Não multiplicou-se, dentro dos limites do possível, em iniciativas como a Ajuda de Berço ou o SOS Grávida! Começamos um caminho moroso, mas são vexas não nos deixam mostrar que ele é eficaz!

Eu ponho as coisas ao contrário de vexa., nós não sabemos é se o NÃO é melhor! Todos os países onde estas estratégias sócio-económicas podem ser implementadas (que são os desenvolvidos) legalizaram o aborto! Resta comparar os dados da eficácia das iniciativas com quem? Com os países não desenvolvidos? Não é justo nem equitativo!

É claro que, se "o futuro pertence ao Sim", ficaremos sempre sem saber não é?

Cumprimentos"

Sem comentários: