A Fernanda Câncio (musa inspiradora dos defensores do não) volta a tentar semear a discórdia, desta vez com este texto:
««'Tenho seguido com mais ou menos atenção o debate sobre o aborto. Não quero entrar em discussões éticas – onde começa e acaba a vida, etc, etc, etc. – limito-me a acreditar e a defender que a actual situação é insustentável e a lei tem de ser alterada. Certo ou errado? Não sei, é quase tão abstracto para mim como geometria no espaço. Há anos atrás, na faculdade, e para ilustrar que o valor da vida era imensurável, Figueiredo Dias, meu professor de Direito Penal, dava o exemplo do comboio desgovernado e do agulheiro angustiado – mandava o comboio para a linha onde matava uma pessoa ou para a linha onde matava várias? Eticamente não há resposta.
Há onze anos atrás engravidei. Ponderei fazer um aborto. Achei que não conseguia e assumi a gravidez sozinha. Nasceu a Clara. Trissomia 21 diagnosticada à nascença, apesar de ter sido uma gravidez seguida como de risco. Azar? Não. É a Clara. Ponto final parágrafo. Não consigo, como é óbvio, imaginar o mundo sem ela.
Dois anos depois voltei a engravidar. O mesmo pai, a mesma vida sem futuro como família. Fiz amniocentese às doze semanas. Antes do exame tratei de ter dos médicos um compromisso de que me fariam um aborto, sem funfuns nem gaitinhas, se fossem detectadas mal formações no feto. Não era a trissomia que me assustava – era o horror dos dias e noites no hospital, com a minha criança em perigo de vida. Era o vomitar tripas e coração sem saber se daí a minutos ela estaria morta. Tinha sido um processo demasiado doloroso, não aguentava, fisicamente, um segundo.
Fiz a amniocentese e fui apanhada na curva. Pela primeira vez, numa ecografia, consegui ver o feto. Melhor, vi uma mão. Perfeitamente delineada, de dedos abertos. Naquele momento deixou de haver ética, crenças, decisões racionais. Como é que iria ser capaz de fazer um aborto? Uma mão? Gaijinha danada, ainda não tinha nascido e já me trocava as voltas. E se me dissessem que os cromossomas se tinham andado a divertir sozinhos e estavam todos malucos? O que iria fazer com aquela mão ali, a olhar para mim? Abreviando, estava tudo bem e a Xica nasceu. Mas que me fez dançar na corda bamba, isso fez.. Discutir a seco decisões deste tipo? Deixei-me disso desde aí.
Onde quero chegar? Nem eu sei. Talvez a lado nenhum. Talvez a algum lado onde nos deixemos de armar em deuses e aprendamos a ser homens.'
e isto:
'Sabe, vivi 32 anos a brincar com a vida - era eu que dizia aos meus amigos que se tivesse uma criancinha burra a punha à porta de casa - e hoje sou eu quem faz as piadas. Não quero descrever como de um momento para o outro se tem de reaprender a viver mas digo, do fundo do coração - se consigo se pode falar assim - que se nasce uma criança como a Clara em cada 600, ainda bem que ela nasceu na minha casa. Jurei a mim mesma, no momento em que a Clara nasceu, que a vida não ia tirar-me o meu sentido de humor e que nunca por nunca iria passar a ser a "coitadinha tem uma filha deficiente".... Continuo, sobre o aborto, é a dizer o que disse - não sei como decidir, mas exijo isso mesmo - deixem-me decidir. '
Teresa»»
Resta apenas dizer: decidiu muito bem e não se arrependeu! Mostrou coragem, determinação e ousadia. E é feliz! E tem 2 crianças felizes. Os meus parabéns à Teresa (um autêntico exemplo para todos nós).
««'Tenho seguido com mais ou menos atenção o debate sobre o aborto. Não quero entrar em discussões éticas – onde começa e acaba a vida, etc, etc, etc. – limito-me a acreditar e a defender que a actual situação é insustentável e a lei tem de ser alterada. Certo ou errado? Não sei, é quase tão abstracto para mim como geometria no espaço. Há anos atrás, na faculdade, e para ilustrar que o valor da vida era imensurável, Figueiredo Dias, meu professor de Direito Penal, dava o exemplo do comboio desgovernado e do agulheiro angustiado – mandava o comboio para a linha onde matava uma pessoa ou para a linha onde matava várias? Eticamente não há resposta.
Há onze anos atrás engravidei. Ponderei fazer um aborto. Achei que não conseguia e assumi a gravidez sozinha. Nasceu a Clara. Trissomia 21 diagnosticada à nascença, apesar de ter sido uma gravidez seguida como de risco. Azar? Não. É a Clara. Ponto final parágrafo. Não consigo, como é óbvio, imaginar o mundo sem ela.
Dois anos depois voltei a engravidar. O mesmo pai, a mesma vida sem futuro como família. Fiz amniocentese às doze semanas. Antes do exame tratei de ter dos médicos um compromisso de que me fariam um aborto, sem funfuns nem gaitinhas, se fossem detectadas mal formações no feto. Não era a trissomia que me assustava – era o horror dos dias e noites no hospital, com a minha criança em perigo de vida. Era o vomitar tripas e coração sem saber se daí a minutos ela estaria morta. Tinha sido um processo demasiado doloroso, não aguentava, fisicamente, um segundo.
Fiz a amniocentese e fui apanhada na curva. Pela primeira vez, numa ecografia, consegui ver o feto. Melhor, vi uma mão. Perfeitamente delineada, de dedos abertos. Naquele momento deixou de haver ética, crenças, decisões racionais. Como é que iria ser capaz de fazer um aborto? Uma mão? Gaijinha danada, ainda não tinha nascido e já me trocava as voltas. E se me dissessem que os cromossomas se tinham andado a divertir sozinhos e estavam todos malucos? O que iria fazer com aquela mão ali, a olhar para mim? Abreviando, estava tudo bem e a Xica nasceu. Mas que me fez dançar na corda bamba, isso fez.. Discutir a seco decisões deste tipo? Deixei-me disso desde aí.
Onde quero chegar? Nem eu sei. Talvez a lado nenhum. Talvez a algum lado onde nos deixemos de armar em deuses e aprendamos a ser homens.'
e isto:
'Sabe, vivi 32 anos a brincar com a vida - era eu que dizia aos meus amigos que se tivesse uma criancinha burra a punha à porta de casa - e hoje sou eu quem faz as piadas. Não quero descrever como de um momento para o outro se tem de reaprender a viver mas digo, do fundo do coração - se consigo se pode falar assim - que se nasce uma criança como a Clara em cada 600, ainda bem que ela nasceu na minha casa. Jurei a mim mesma, no momento em que a Clara nasceu, que a vida não ia tirar-me o meu sentido de humor e que nunca por nunca iria passar a ser a "coitadinha tem uma filha deficiente".... Continuo, sobre o aborto, é a dizer o que disse - não sei como decidir, mas exijo isso mesmo - deixem-me decidir. '
Teresa»»
Resta apenas dizer: decidiu muito bem e não se arrependeu! Mostrou coragem, determinação e ousadia. E é feliz! E tem 2 crianças felizes. Os meus parabéns à Teresa (um autêntico exemplo para todos nós).
8 comentários:
A Fernanda Cancio, por defender o que defende, não tem que ser musa inspiradora dos defendores do SIM.
A grande musa inspiradora do SIM é a verdade, também a razão e consciência.
Por acaso eu disse que ela era a musa inspiradora dos defensores do "não". Foi uma "piadinha inocente" (a Fernanda que me desculpe).
Mas achei curioso um pormenor: significa o seu comentário que se querem distanciar dela?
Os defensores do NÃO têm uma tendência subversiva que não consigo entender. Por acaso disse que da Fernanda Cancio quero distância? Fernando Alves, não leia o que não está escrito.
Hummm, subversiva, em relação a quê?
"El término subversión se relaciona con un trastorno, una revuelta, una destrucción; principalmente en el sentido moral."
Sou eu que vou contra a moral dominante ou é você? Qual é a moral dominante? Ser a favor do aborto é uma moral? Quem tem mais tendência a ser subversivo, a esquerda ou a direita?
Quer entrar por discussões desse tipo?
Acho que a resposta que os Portugueses lhe vão dar, na noite do referendo responderá às suas perguntas. Não entro em discussões desse tipo, sobretudo, porque sei que não as conseguirá ter. Como tal, fiquemo-nos pelo que interesse, no momento que corre. Mas se é subversivo, não se esquive em frases castelhanas e assuma-o.
Não entro em discussões desse tipo, sobretudo, porque sei que não as conseguirá ter.
ó amigo fernando alves
primeiros, não tenha receio, criatura. o referendo, seja qual for o resultado, não tem efeitos retroactivos.
segundos, essa sua troca de galhardetes com a f. é uma barraca do catano. os seus dois neurónios não coram de vergonha? que figura triste!
Caro amigodaonça,
provavelmente será uma perda de tempo responder-lhe mas cá vamos:
Os meus dois neurónios são só dois mas desenrascam-se. São até capazes de elaborar alguns argumentos, por mais ridículos que a si lhe possam parecer. Já os seus aparentam funcionar apenas para criar insultos de gosto duvidoso. Ponha-os a trabalhar, meu caro, e diga coisas válidas e com senso, mesmo que eu as ache ridículas.
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