quinta-feira, novembro 16, 2006

Fernanda Câncio defende o "não"

A Fernanda Câncio, incapaz de argumentar algo de novo sobre o aborto, vai ao baú das recordações buscar entrevistas de 1998. Podemos ler pérolas como:

NM - Que tipo de pessoas, que estrato sócio-económico, é que lhe aparecem?
Sra X - São pessoas da classe média alta, e bastante alta. Muitas jovens, miúdas com catorze, quinze , dezasseis...
NM - Nunca lhe apareceu aqui gente mais humilde?
Sra X - Raramente. Às vezes aparece aqui uma filha de uma empregada, ou uma empregada trazida pela patroa. Especialmente quando são miúdas negras... Não sei porquê.

E depois porque acho que até às oito semanas uma pessoa tem tempo suficiente para se decidir. E depois penso que me faria um bocado de impressão moral fazer uma coisa já maior. Porque assim é uma bolsa embrionária, são células embrionárias, aquilo sai tudo fragmentado, é como se fosse gelatina. Faz de conta que é um pudim de gelatina, que a gente aspira e pronto.... não faz impressão nenhuma.

Quanto às circunstâncias, penso que muitas vezes são inconsequências. As pessoas nunca pensam que aquilo lhes vai acontecer. E acontecem às vezes com brincadeiras. Olhe que eu já encontrei uma miúda grávida que estava virgem. (...) Tive de fazer tudo com o maior dos cuidados para não desvirginar a moça. E ficou intacta, felizmente. Coitada da miúda.

Os prós, só elas sabem, a razão que as leva lá. Os contras, em princípio o único contra é faltar a electricidade enquanto se está a fazer... E aí ou se acaba manualmente ou se espera. Mas é muito chato. Não que doa, mas é menos fácil.

E eu sei o que isso é, porque eu também já tive as minhas interrupções. Está a ver, eu separei-me do meu marido muito nova. E nessa altura não havia nada... Há trinta anos não havia pílula, não havia dispositivo intra-uterino... E as pessoas que faziam as interrupções eram muito agressivas, não tinham uma conversa, era tudo toca a marchar.

NM - E há muitas mulheres que fazem várias interrupções?
Sra X - Muitas. (...) Já houve pessoas que vêm aqui num mês e no mês seguinte ficam grávidas.

E sei de outro caso, com um diagnóstico de hidrocefalia no feto, a senhora tinha decidido abortar — quem é quer um filho hidrocéfalo? Só uma masoquista, por amor de Deus.

Sra X - Eu sinceramente não entendo. Então se isso é um atentado à vida, então os indivíduos que são condenados à morte? Aí a igreja não faz nada...

Como é que se escolhe? Não sei, não sei. Há coisas a que é impossível responder. Têm de ser as pessoas a decidir. A vida é delas.

Porque Deus não quer que as pessoas tenham filhos para isso, para sofrer. Deus quer é que as pessoas não sofram.


Ora aqui está um bom exemplo daquilo que deve ser um artigo a defender o "não" no próximo referendo. Ou seja, um "pé na poça" enorme de Fernanda Câncio. A continuar a saga iniciada por Francisco Loucã e Lídia Jorge.
Só me resta uma questão: será que a Fernanda Câncio leu o artigo antes de o postar?

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