terça-feira, novembro 21, 2006

Aborto e feminismo (III)

É com algum espanto que constato que certos movimentos feministas mais radicais tendem a "masculinizar a mulher".
Na tentativa de obter os mesmos direitos que os homens caem na tentação de ser iguais a eles esquecendo-se das suas diferenças e características intrínsecas. Acho salutar e necessária a luta pela igualdade de direitos. Mas usar o aborto como meio para atingir esses direitos é desumano e nada digno para as mulheres. É cruel recorrer-se ao aborto apenas porque se quer conseguir a tal promoção na empresa e por isso não há lugar para a gravidez não planeada. As mulheres precisam de chegar aos lugares de topo, é um facto, não abortando mas sim obtendo todas as ajudas necessárias à concretização dessa gravidez e à conciliação da vida como mãe com a vida profissional.
Os movimentos feministas têm de se convencer que a mulher não terá os mesmos direitos do homem se for igual a ele mas sim se assumir as suas diferenças e exigir que elas sejam respeitadas. A capacidade de gerar vida é uma dessas diferenças.

4 comentários:

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, penso que nenhuma mulher, feminista ou não, considera que o aborto é a forma de conseguir atingir lugares de topo. Depois, as diferenças entre mulheres e homens não são assim tão salientes - existem sobretudo ao nível físico (obviamente, dado que se trata da expressão fenotípica de uma diferença genética, ao nível de UM cromosoma); ao nível da masturbação, rotação mental e agressão física(mais comuns e/ou facilitadas nos homens). Aliás, Hyde, em 1990, fez uma meta-análise de vários estudos e verificou que 78% das diferenças de género estão perto de zero. Logo, talvez as diferenças que parecem existir entre hoemnes e mulheres partam exactamente da imposição de papéis de género tradicionais, por parte da sociedade. Para terminar, gostava apenas de salientar que a capacidade de gerar vida não é única da mulher, pelo contrário, para gerar é vida é absolutamente necessário um elemento do sexo masculino e, daí a possibilidade de homens como o caro Fernado Alves merecerem pelo menos dar a sua opinião sobre a questão do aborto.

fernando alves disse...

Cara Ludmila,
antes de mais, obrigado pelo seu comentário e seja bem vinda ao debate.

Quando referi a hipótese de abortar para chegar a lugares de topo estava apenas a colocar um exemplo de uma situação extrema a que se pode chegar com a liberalização total do aborto. É que, ao abrir a caixa de pandora, todas as situações serão possíveis. Ou acha mesmo que as mulheres só recorrerão ao aborto em casos de extrema necessidade?

Ao falar das diferenças entre o homem e a mulher não me referia a termos genéticos mas sim a situações decorrentes da condição de mulher. Penso que seria mais produtivo para as feministas exigir melhores condições pessoais ou laborais para poderem levarem a gravidez a bom termo.

Como homem (vai-me desculpar) mas não tenho apenas o direito a opinar. Tenho também uma palavra a dizer sobre um assunto que diz respeito ao casal e não apenas à mulher. Porque, se assume que o homem não pode ter uma palavra a dizer sobre o facto de a sua companheira querer fazer um aborto, então o que diz sobre as responsabilidades paternais após o nascimento da criança? O homem tem apenas deveres e não tem direitos?

Elle disse...

Caro Fernando, em primeiro lugar gostaria de esclarecer que considero o nascimento de uma criança responsabilidade tanto da mulher como do homem que a conceberam (assim como da sociedade em geral). O meu comentário anterior ia no sentido de me opor ao facto de o Fernando considerar que a capacidade de gerar vida é´uma das diferenças entre homens e mulheres.
No que diz respeito às diferenças, vejo que o Fernando refere-se então a «situações decorrentes da condição da mulher» e não a diferenças genéticas. Sendo assim, vejo-me obrigada a discordar ainda mais da sua posição, uma vez que penso que essas diferenças não têm razão de ser - a condição da mulher não deveria ser de modo algum diferente da do homem, especialmente se não existem bases naturais para essa distinção.

fernando alves disse...

Não pense que falo da “condição de mulher” como uma desvantagem ou algo de mau, pelo contrário, abomino qualquer forma de machismo.
Apesar de a responsabilidade pela vida caber aos dois, é à mulher que cabe a “tarefa” de a transportar até ao nascimento. É por isso que essa condição (era a isso que me referia) deve ser apoiada, tanto pelo homem em particular como pela sociedade em geral, para que a gravidez dessas mulheres seja respeitada. Repare que coloquei “tarefa” entre aspas porque não quero que pense que acho que isso seja uma obrigação ou algo que diminua a mulher. Tal como referi no post inicial, entendo que as mulheres são cada vez mais necessárias nos lugares de topo mas, quanto a isso, ambos podemos estar descansados porque, dada a verdadeira “revolução” em curso nas nossas universidades, as mulheres chegarão aos lugares de topo bem mais cedo do que imaginamos.