segunda-feira, dezembro 04, 2006

Debater com seriedade

Andar pela rede à procura de artigos sobre o aborto tem destas coisas. Há dias dei de caras com um site mantido por autênticos "terroristas ateus". Perdoem-me a expressão! Pelo menos coloquei-a entre aspas, coisa que eles não fazem quando atacam os "terroristas católicos". Não gostaria de fazer referências à religião pelas mais variadas razões, sejam elas o facto de pretender defender a vida com base na ética ou de evitar fazer "o jogo do adversário". Mas vou abrir uma excepção.

Porque se coloca o problema da intervenção da Igreja no debate?
Analisando o discurso de alguns intervenientes no referido site, podem-se retirar algumas ilações.

1. Nos dias que correm, ser-se católico é uma autêntica prova de coragem. Somos logo rotulados de "fracos que cedem à influência nefasta da Igreja". A essa fraqueza associa-se também a falta de inteligência, a falta de liberdade e o conservadorismo. Nada de mais errado! Os que se dizem ateus ainda não se aperceberam que já vai longe o tempo em que a ignorância do povo ditava que "em terra de cegos que tem um olho é rei". E esses "reis" eram os padres. Isso é uma visão medieval da Igreja. Infelizmente essa tradição prolongou-se desde a época medieval até meados do século XX, é verdade. Mas hoje é diferente e só quem é cego é que não o vê. Se outrora o "rebanho" incluía todas as ovelhas, as que estavam lá por convicção e as que estavam lá por medo, hoje o rebanho inclui apenas as ovelhas que estão convictas daquilo em que acreditam e daquilo que defendem. Aí reside a força de quem acredita e a convicção de que a verdadeira liberdade se alcança quando nos entregamos ao próximo e a Deus.

2. Infelizmente, numa sociedade hedonista, do "aqui e agora" e do prazer imediato, o assumir de algo maior que nós não tem lugar. Quem assume que "Deus é maior que eu" é, como referi, rotulado de "fraco". Os jovens tornam-se vítimas fáceis do hedonismo. E rotulam-se logo de "ateus" porque ninguém gosta de ser visto com pena ou fragilidade. Daí até transformarem a Igreja e tudo o que a representa em alvos de críticas ou de chacota é um pequeno passo. As críticas resumem-se sobretudo a coisas que a Igreja fez há 500 anos. Por vezes fazem-se referências aos casos de pedofilia entre alguns padres. Esquecem-se, no entanto, que a Igreja é actualmente a maior instituição de solidariedade do Planeta. Esquecem-se que os sistemas de saúde ou de ensino que alguns países ruiriam se a Igreja deixasse de realizar o fantástico trabalho que realiza. Não é preciso olhar lá para fora para ver isso. E esquecem-se que a Igreja não tem a idade deles. A igreja tem 2000 anos e, se quer sobreviver, não pode mudar de postura ao sabor da maré ou de uma geração. Se quer sobreviver, as suas posturas terão de ser válidas hoje e daqui a mil anos, para a nossa sociedade e para a sociedade de qualquer outra região do globo.

3. Numa época de "Cristofobia", colar os defensores da vida à religião é uma táctica apetecível. São inúmeras as referências à religião nos blogues pró-aborto. Essas referências são normalmente acompanhadas de termos como "fundamentalismo", "radicais", "manipulação dos fiéis", "marginalização da mulher", "talibanização" (!!!) e outros. Insinua-se até uma certa "teoria da conspiração" que colocaria a Igreja a manipular e a comandar os movimentos pró-vida. Curiosamente, são muito poucas as referências à religião nos blogues pró-vida e uma leitura atenta desses mesmos blogues deita por terra o argumento da motivação religiosa como único argumento contra o aborto.

4. Estranhamente, os abortistas insinuam que a Igreja não se deve intrometer no debate. Porquê? Não tem o direito de opinar? Medo da manipulação? E não será uma tentativa de manipulação qualquer modo de convencer alguém a votar no sim? A Igreja tem o direito de participar. É, no entanto, incompreensível, que os movimentos pró-aborto se vangloriem que algum movimento cristão os apoie e logo em seguida critiquem algum bispo quando este defende a vida.

A dois meses da campanha, a batalha adivinha-se dura. Do lado dos "fundamentalistas ateus" surgirá manipulação e radicalização. É indispensável que os moderados do lado do "não" não cedam à chantagem e mantenham o debate com elevação e dignidade.

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